Pensamentos Soltos #4

Nesta série você encontrará devaneios escritos em algum caderno que carrego comigo pelo mundo.

Saudade

Daqui consigo ouvir o murmurinho do mar lá no fundo do pensamento, misturado com motores, conversas e incertezas.

Fecho os olhos e sinto o vento fresco que aquieta os raios de sol que passam entre as folhas e os galhos do abacateiro. Minha mãe contou que foi minha avó que o plantou, e tá vendo aquela pitangueira? Ela foi o Jose. E aquela bananeira ali? É o avô dessas aqui, pena que não foi pra frente, deve ser a terra daquele lado.

Puxo a cadeira, escolho um canto embaixo do abacateiro, entre o pé de abacaxi e o gato sonolento. Pego um caderninho e fico pensando no que escrever.

Daqui observo meu pai numa rede no começo da varanda tirando aquele cochilo gostoso da tarde, e meu irmão conectado na Internet enquanto balança a rede.

Minha mãe fica num bate-volta. Faz buraco na terra, corre na cozinha, traz o lixo orgânico, joga no buraco, colhe mandioca, lava e descasca no tanque, guarda no congelador, volta, fala com o gato, mexe no varal, fala comigo e tudo se repete uma, duas, três vezes.

Daqui também fico pensando no que posso planejar da vida e durante meus devaneios sou observada pelo meu pai que foi acordado com uma xícara de café.

De repente sinto um aperto de saudade, imaginando que daqui uns anos essa brisa fresca não será mais a mesma.

Como será que se chama uma saudade do que ainda não aconteceu?

Se chegou até aqui, obrigada pela sua leitura. Se gostou e quiser compartilhar, agradeço :)

Neste link você pode ler também meu breve ponto de vista sobre o que vivi aqui em Dublin nos tempos de Corona Vírus.

Ou clicando aqui, um ponto de vista de um brasileiro que vive na Itália.

Se quiser descontrair, pensamentos soltos aqui ou em italiano qui.